quinta-feira, 2 de setembro de 2010

SÉCULO XIX NA EUROPA (1): AS INOVAÇÕES NA ARTE

SÉCULO XIX NA EUROPA (1): AS INOVAÇÕES NA ARTE


No fim do século XVIII e no início do século XIX, predominou na arte européia o Neoclassicismo, ou Academismo. Neoclassicismo, do grego neo, “novo”, significa “novo classicismo”, retomada da cultura clássica, greco-romana. Academismo vem do fato de as concepções clássicas serem a base para o ensino nas academias, as escolas de belas-artes mantidas pelos governos europeus.
O século XIX, porém, passou por fortes mudanças, decorrentes da Revolução Industrial e da Revolução Francesa, no fim do século XVIII. A arte refletiu essas mudanças, tornando-se mais complexa e dando lugar a vários movimentos artísticos. Enquanto os artistas neoclássicos submetiam-se às regras das academias, outros buscavam libertar-se delas e expressar livremente seus sentimentos e sua imaginação.
O francês Jacques-Louis David (1748-1825) é o maior representante da pintura neoclássica. Segundo o neoclassicismo, a obra de arte só seria perfeitamente bela se imitasse as formas criadas pelos artistas clássicos gregos e pelos renascentistas italianos. Exemplo: (Fig. 01 - Bonaparte atravessando os Alpes, 1800, de Jacques-Louis David. 2,60 x 2,21 m. Museu Nacional de Malmaison, Rueil-Malmaison.
As inovações na pintura: Há dois aspectos relevantes no trabalho dos artistas que reagiram ao neoclassicismo: a valorização da cor e os contrastes de claro-escuro. Quanto aos temas, eles se interessaram mais pelos fatos de sua época que pela mitologia greco-romana. A natureza também passa a ser tema da pintura.
Goya: a luta contra a tirania. O espanhol Francisco José Goya y Lucientes (1746-1828) usou temas diversos: retratos da corte espanhola e do povo, os horrores da guerra, a ação incompreensível de personagens fantásticas e cenas históricas. Dessa variedade, destacamos uma imagem que é símbolo das lutas pela liberdade (Fig. 02 - Os fuzilamentos de 3 de maio de 1808- Goya – 2,63 x 4,10 m. Museu do Prado, Madri).
Delacroix: a agitação nas ruas. Aos 29 anos, o Francês Eugène Delacroix (1799-1863) viveu uma importante experiência: visitou o Marrocos, no norte da África, com a missão de documentar, por meio da pintura, os hábitos e costumes das pessoas daí. Mas Delacroix tornou-se famoso também por retratar a agitação das ruas, como em seu quadro mais conhecido (Fig. 03 - A liberdade guiando o povo, 1830 - 2,60 x 3,25 m. Museu do Louvre, Paris).
A realidade e a arte: Entre 1850 e 1900 desenvolveu-se na arte européia, principalmente na pintura francesa, uma nova tendência, relacionada à crescente industrialização. Segundo ela, ao artista não cabe “melhorar” artisticamente a realidade, pois a beleza está na realidade tal qual ela é. A função da arte é apenas revelar o que há de mais característico e expressivo no mundo em que vivemos.
Assim, os pintores deixaram de lado temas mitológicos, bíblicos, históricos e literários – a realidade imaginada – e voltaram-se para a realidade vivida. Trata-se, portanto, de uma pintura realista. Entre seus representantes podemos apontar Courbet e Manet, que, embora da mesma época, desenvolveram trabalhos muito diferentes.
Courbet: os trabalhadores como tema. O pintor francês Gustave (1819-1877) é considerado o criador do realismo social na pintura, pois procurou retratar temas da vida cotidiana, principalmente das classes populares. Sua obra manifesta especial simpatia pelos trabalhadores e membros mais pobres da sociedade (Fig. 04 - Moças peneirando trigo – 1853-1854. Museu de Belas Artes, Nantes).
A preocupação de alguns artistas em representar questões sociais relaciona-se à época: a industrialização trouxe grande desenvolvimento tecnológico, mas também fez formar-se nas cidades uma grande massa de trabalhadores vivendo e trabalhando em condições precárias e desumanas.
Manet: o outro lado da realidade. Édouard Manet (1832-1883) pertencia a uma família rica da burguesia parisiense. Seu realismo, diferente de Courbet, não tem intenções sociais; ao contrário, chega a ser aristocrático. Sua carreira foi marcada por alguns desafios aos críticos conservadores. O maior deles aconteceu em 1863, com a tela (Fig. 05 - “Almoço na relva” 1863, 2,14 x 2,70. Museu D’Orsay, Paris). Na época, esse quadro causou grande escândalo por representar uma mulher nua em companhia de dois homens elegantemente vestidos.
A obra de Manet foi importante por inovar a pintura, dando-lhe uma luminosidade mais intensa, como podemos apreciar em outro de seus trabalhos, (Fig. 06 - O Balcão – 1,70 x 1,24 m. Museu D’Orsay, Paris). Essa luminosidade foi considerada um elemento precursor do impressionismo, que você conhecerá mais adiante.


A PAISAGEM: UM NOVO TEMA PARA A PINTURA


A pintura de paisagens já havia se desenvolvido no século XVIII, mas no século XIX ganhou nova força, principalmente na Inglaterra. Caracterizou-se, de um lado, pelo realismo, de outro, pela preocupação dos artistas em estudar e representar as contínuas variações de cores da natureza decorrentes da luz solar ao longo do dia.
Turner: a agitação na paisagem natural. O inglês Joseph Mallord William Turner (1775-1851) usou como tema fenômenos da natureza: chuvas, tempestades, ventos. A natureza representada por ele não é serena e tranqüila; nela predominam o movimento e a agitação (Fig. 07 - Vapor numa tempestade de neve (1842). 91 x 1, 22 m. Tate Gallery, Londres).
Outro aspecto que chama a atenção na pintura de Turner é a presença de máquina. Os pintores anteriores representaram elementos da natureza, seres humanos, animais ou mesmo embarcações. Em uma das telas de Turner, porém, vemos uma locomotiva, meio de transporte que começava a fazer parte do cotidiano das pessoas (Fig. 08 – Chuva, vapor e velocidade (1844). 90 x 1,21 m. Galeria Nacional, Londres).
Constable: o cotidiano na paisagem. Ao contrário de Turner, o também inglês John Contable (1776-1837) retrata uma natureza serena e profundamente ligada aos lugares onde ele nasceu, cresceu e trabalhou ao lado do pai. Muitos elementos de suas paisagens – moinhos de vento, barcaças carregadas de cereais – fazem parte de suas lembranças de juventude (Fig. 09 - A carroça de feno (1821), 1,30 x 1,85 m. Galeria Nacional, Londres.
As inovações na escultura: Rodin. Entre os escultores que inovaram a escultura do século XIX destaca-se o francês Auguste Rodin (1840-1917). Sua produção despertou muita polêmica: alguns estudiosos apontam em seu trabalho a acentuada tendência ao realismo; outros consideram mais a emoção revelada por muitas de suas obras. Outros, ainda, vêem em sua escultura características do impressionismo, movimento do qual foi contemporâneo. A mais famosa de suas obras (Fig. 10 - O pensador (1889), 1,83 m. Museu Rodin, Paris).

Bibliografia (texto): PROENÇA, Graça. História da arte. Ed. Ática, São Paulo, 2008.

SÉCULO XIX NO BRASIL (1): A INFLUÊNCIA ESTRANGEIRA

SÉCULO XIX NO BRASIL (1): A INFLUÊNCIA ESTRANGEIRA

O início do século XIX no Brasil é marcado pela vinda da família real portuguesa, que pretendia ficar de fora do conflito entre a Inglaterra e a França, governada por Napoleão. Dom João VI e uma comitiva de milhares de pessoas desembarcaram na Bahia em 1808 e no mesmo ano transferiram-se para o Rio de Janeiro.
Chega a Missão Artística Francesa. Chefiada por Joachim Lebreton, a Missão Artística Francesa chegou ao Rio de Janeiro em 1816, oito anos depois da família real. Dela faziam parte, entre outros artistas, Nicolas-Antoine Taunay, Jean-Baptiste Debret e Auguste-Henri-Victor Grandjean de Montigny. Em agosto de 1816, o grupo organizou a Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios, transformada, em 1826, na Academia Imperial de Belas-Artes.
Taunay: a paisagem brasileira do século XIX. Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830) é um dos nomes mais importantes da Missão Francesa. Na Europa, participou de várias exposições e foi muito requisitado para pintar cenas de batalhas napoleônicas. Nos cinco anos que aqui ficou, pintou cerca de trinta paisagens do Rio de Janeiro e regiões próximas (Fig. 11 – Morro de Santo Antonio (1816). Museu Nacional de Belas-Artes, RJ).
Debret: os costumes brasileiros do século XIX. Com trabalhos muito reproduzidos nos livros escolares, Jean-Baptiste Debret (1768-1848) é o artista da Missão Francesa, mais conhecido pelos brasileiros. Na Europa já era um artista premiado e pintava quadros com temas relacionados a Napoleão.
Debret ficou no Brasil até 1831 e produziu uma obra imensa: retratos da família real, cenários para o teatro São João e trabalhos decorativos para festas públicas e oficiais, como as solenidades que envolviam Dom João VI. Foi professor de Pintura Histórica na Academia Imperial de Belas-Artes e realizou a primeira exposição de arte no Brasil, em 1829.
O artista produziu inúmeros desenhos e aquarelas*, mais tarde reproduzidos em seu livro Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, publicado em Paris entre 1834 e 1839. Neles é possível conhecer paisagens e costumes da época (Fig. 12 e 13 – de Debret).
Arquitetura: A Missão Francesa adotou o estilo neoclássico e abandonou o Barroco, que, em nosso país, Principalmente em Minas Gerais, havia se desenvolvido com características e soluções brasileiras. O Principal responsável por essa mudança foi o arquiteto Grandjean de Montigny (1772-1850), autor do projeto da Academia Imperial de Belas-Artes (Fig. 14 – Pórtico de entrada da academia imperial de belas-artes).
Outra construção de destaque na arquitetura da época é o Solar dos Marqueses de Itamaraty (Fig. 15 – Arquiteto José Maria Jacinto Rebelo, aluno de Montgny).
Os primeiros estudantes da Academia. Entre os primeiros alunos, o gaucho Manuel de Araújo Porto Alegre (1806-1879). Aí desenvolveu seu talento no desenho, na pintura, na caricatura. Mais tarde, foi professor de desenho e pintura, crítico de arte, poeta, escritor e teatrólogo. Quase trinta anos depois, tornou-se diretor da Academia. Grande incentivador das atividades da academia. Mas os dois estudantes da instituição que mais se destacaram foram August Muler e Agostinho José da Mota.
O alemão August Muler (1815-1883) veio para o Rio de Janeiro ainda criança. Sua obra abrange pinturas históricas, retratos (Fig. 16 – Retrato em azul – Baronesa de Vassouras, 150 x 94 cm. Museu Imperial RJ) e paisagens. Agostinho José da Mota (1824-1878) começou a freqüentar a academia em 1837 e tornou-se famoso como pintor de paisagens. Foi o primeiro artista brasileiro a ser premiado com uma viagem à Europa, em 1850. Pintou também naturezas-mortas, tema em que igualmente se destacou.
Artistas europeus independentes da Missão Artística Francesa. Além dos artistas da Missão, vieram ao Brasil outros pintores europeus atraídos pela luminosidade dos trópicos e pela burguesia rica que queria ser retratada em pinturas. Entre eles, destaca-se Thomas Ender e Johann Moritz Rugendas.
O austríaco Thomas Ender (1793-1875) chegou ao Brasil em 1817, com a comitiva da Princesa Leopoldina. Tinha 23 anos e ficou aqui por onze meses. Retratou paisagens e cenas do cotidiano de São Paulo e Rio de Janeiro em um conjunto de oitocentos desenhos e aquarelas. Esses trabalhos ficaram expostos no Museu Brasileiro de Viena. Já o alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1868) esteve no Brasil entre 1821 e 1825. Participou, como desenhista e documentarista, da expedição científica que o Barão Langsdorff, cônsul-geral da Russia no Rio de Janeiro, organizou pelo interior do Brasil. Tinha então 19 anos. Desse período, deixou um livro, Viagem pitoresca através do Brasil, contendo cem desenhos. E foi com seus desenhos e aquarelas que ele melhor expressou sua percepção do nosso país, deixando-nos importantes registros da flora, da fauna (Fig. 17 e 18) e dos costumes brasileiros do século XIX.


Bibliografia (texto): PROENÇA, Graça. História da arte. Ed. Ática, São Paulo, 2008.