segunda-feira, 2 de julho de 2012

A ARTE ROMANA

A fundação de Roma está cercada de lendas e mitos. Tradicionalmente considera-se que ela se deu em 753 a. C. Sabe-se, porém, que a formação cultural do povo romano sofreu forte influencia de gregos e etruscos, que ocupavam diferentes regiões da Itália entre os séculos XII e VI a. C.
Os romanos receberam dos etruscos a ideia de que a arte deve expressar a realidade vivida. Dos gregos, herdaram a visão de que a arte deve expressar um ideal de beleza.

A escultura
A escultura é uma forma interessante de observar a influência de etruscos e gregos. Realistas e práticos como os etruscos, os romanos produziram na escultura figuras muito próximas da pessoa retratada. Como os gregos, procuraram também manifestar em suas obras uma beleza humana ideal.
A preocupação dos escultores romanos em representar figuras de fácil identificação é notada também nos relevos de monumentos comemorativos (fig. 01).

Detalhe em relevo da Coluna de Trajano (fig.01)

Coluna de Trajano (fig.1)

A arquitetura
O arco foi importante recurso de arquitetura de que os romanos conheceram com os etruscos e empregaram em muitas de suas obras (reveja a figura 02,) na página seguinte. Antes de sua invenção, zero espaço entre colunas era limitado pelo tamanho da arquitrave, pois, quanto maior ela é, maior a tensão que recebe. Além disso, a pedra não suporta grandes tensões. Por isso os templos gregos eram repletos de colunas, o que reduzia o espaço de circulação.

Passagem sob arco etrusco em Voltera, Itália. (fig.02)

O arco permitiu ampliar o vão entre as colunas, pois nele as tensões têm distribuição mais homogênea. O conhecimento dos romanos sobre o arco e sobre a construção de abóbadas possibilitou-lhes criar amplos espaços internos, livres de colunas. O Panteão é o melhor exemplo dessa diferença da arquitetura romana em relação à grega (fig. 03).

Interior do Panteão. séc. II, Imperador Adriano, Roma (fig.03)

A concepção arquitetônica do teatro
Com o emprego de arcos e abóbadas, os romanos construíram amplos edifícios, sobretudo anfiteatros, para abrigar muitas pessoas. Os anfiteatros foram importantes também para as lutas dos gladiadores; espetáculo muito popular e que podia ser apreciado de todos os ângulos.
O anfiteatro romano possuía um espaço central em forma de elipse, onde se dava o espetáculo. Em volta dele, ficava o auditório, composto por um grande número de fileiras e assentos, que formavam uma arquibancada. Assim era o Coliseu, o mais belo dos anfiteatros romano (fig. 04).

Coliseu, séc. I, Roma (fig.04)

O aqueduto: uma importante obra pública
A arte e a capacidade de construção dos romanos revelam um povo de grande espírito prático: por toda parte, estabeleceram colônias e construíram casa, templos, termas, aquedutos, mercados e edifícios governamentais (exemplo, fig.05).

Aqueduto de Le Pont du Gard, 50 km, séc. I, cidade de Nimes, França (fig. 05)

A pintura
A maior parte das pinturas romanas hoje conhecidas provém das cidades de Pompéia e Herculano, soterrados pela erupção do Vesúvio em 79 d.C. As pintura de Pompéia – cujas ruínas foram descobertas no século XVIII – fazem parte da decoração das paredes internas dos edifícios. Inicialmente decoravam-se as paredes com uma camada de gesso pintado para dar impressão de placas de mármore. Mais tarde, alguns pintores perceberam que era possível passar a ilusão de um bloco saliente de mármore apenas pela pintura, sem necessidade do gesso. Essa descoberta conduziu a outra: se era possível sugerir saliência, podia-se também sugerir profundidade. Começou-se, então, a pintar painéis que davam a ideia de janelas abertas por onde se viam paisagens com pessoas e animais. Outras vezes, pintavam-se barrados com figuras de pessoas formando uma grande pintura mural (fig.06).

Afresco Vila dos Mistérios (50 a.C.), em Popéia. (fig.06)

Os artistas romanos dedicaram-se também à arte do mosaico em mármore. Foram encontrados mosaicos em muitas cidades romanas, mais os de maior valor artístico são os que decoravam os edifícios de Pompéia.
Os pintores romanos misturaram realismo e imaginação, e suas obras ocuparam grandes espaços nas construções, complementando ricamente a arquitetura, como no famoso mosaico de Alexandre (fig. 07).

Mosaico de Alexandre (chão da Casa do Fauno, em Pompéia), séc. I (fig. 07)

Bibliografia (texto): PROENÇA, Graça. História da arte. Ed. Ática, São Paulo, 2008.

A ARTE NA GRÉCIA

Por volta do século X a. C., os habitantes da Grécia continental e das ilhas do mar Egeu formavam pequenas comunidades, distantes umas das outras, e falavam diversos dialetos.
Nessa época, as comunidades eram muito pobres, mas aos poucos foram enriquecendo e se transformaram em cidades-estado. Com o aumento do comércio, essas cidades-estado entraram em contato com as culturas do Egito e do Oriente próximo, cuja arte despertou admiração nos gregos. Assim, embora a princípio os artistas gregos tenham imitado os egípcios, depois passaram a criar sua arquitetura, escultura e pintura, movidas por ideias próprias em relação à vida, à morte e às divindades.

A escultura
Aproximadamente no fim do século VII a. C. os gregos começaram a esculpir em mármore grandes figuras masculinas (fig. 01).

Estátua Grega, segundo padrão kouros (fig.01)

Na Grécia, a arte não tinha função religiosa, como no Egito. Sem submeter-se a regras rígidas, a escultura evoluiu livremente. O escultor grego começou, então, a não se satisfazer mais com a postura rígida e forçada de suas esculturas. Dessa evolução resultaram trabalhos como o da (fig. 02).

Efebo de Critios (fig.02)

Também para superar a aparência de rigidez e imobilidade, o escultor grego procurou representar as figuras em movimento. É o caso do Discóbolo, de Míron (fig. 03).

Discóbolo, de Miron (fig. 03)

A melhor solução para superar a aparência de imobilidade foi encontrada pelo escultor Policleto na escultura Doríforo (Lanceiro) (fig. 04).

Doriforo, de Policleto (fig. 04)

A arquitetura
As construções que se destacam na arquitetura grega são os templos. Hoje em dia, os templos são construídos para reunir, dentro deles, pessoas em cultos religiosos. Entre os gregos, porém, sua finalidade era proteger das chuvas ou do sol excessivo as esculturas de deuses e deusas.
O templo era construído sobre uma base com três degraus: as colunas e as paredes do templo eram erguidas sobre o mais elevado deles. O conjunto formado pelas colunas e pelas estruturas a elas ligadas obedecia a dois modelos: o da ordem Dórica (fig.05) e o da ordem Jônica (fig. 06).

(fig. 05)

(fig. 06)

A cobertura dos templos era construída de telhados altos no centro e inclinada para os lados. Essa posição do telhado, tanto na entrada do templo como no fundo, criava um espaço em forma de triângulo – frontão –, que era ornamentado com esculturas (fig. 07).

Frontão (fig. 07)


A pintura em cerâmica
Na Grécia, a pintura em cerâmica tornou-se uma forma especial de manifestação artística. Os vasos gregos, ou ânforas, são famosos pela beleza da forma e pela harmonia entre desenho, core e espaço utilizado para a ornamentação. Eram usados em rituais religiosos e também para armazenar água, vinho, azeite e outros alimentos. À medida que passaram a apresentar uma forma equilibrada e um trabalho harmonioso de pintura, tornaram-se também objetos de decoração.
As pinturas representavam cenas da mitologia grega e de pessoas em suas atividades diárias. Inicialmente o artista pintava, em negro, a silhueta das figuras. Depois, fazia os detalhes do desenho retirando a tinta preta. O maior pintor de figuras negras (fig.08) foi Exéquias.

Figura negra em positivo (fig. 08)

Por volta de 530 a. C., Eutímedes, discípulo de Exéquias, introduziu uma grande modificação na arte de pintar vasos: inventou o esquema de cores, isto é, deixou as figuras na cor natural do barro cozido e pintou o fundo de negro, dando início à série de figuras vermelhas (fig. 09).

Figura vermelha em negativo (fig. 09)

A escultura no período helenístico
No século IV a. C., Filipe II, rei da Macedônia, dominou a Grécia. Ao morrer, foi sucedido pelo filho, Alexandre Magno, que construiu um gigantesco império: manteve o domínio sobre a Grécia e conquistou a Pérsia e o Egito. Com sua morte, o império dividiu-se em vários reinos nos quais se desenvolveu uma cultura semelhante à grega – daí ser chamada de helenística, de Hélade, como a Grécia era conhecida.
A escultura desse período apresentava características bem diferentes da dos períodos anteriores. Uma delas é a tendência de expressar, sob forma humana, ideias e sentimentos, como paz, amor, liberdade, vitória, etc. Outra é o início do nu feminino (fig. 10), pois nos períodos arcaico e clássico as figuras de mulher eram esculpidas sempre vestidas.

Afrodite de Cápua, de Lisípo (fig. 10)

Vênus, de Milo. Museu do Louvre (fig. 10)

No início do século III a. C. os escultores já aceitavam a ideia de que suas figuras deveriam expressar movimento e despertar no observador o desejo de andar em torno delas para examiná-las de vários ângulos (fig. 11).

Vitória de Samotrácia, helenístico (fig. 11)

A grande novidade da escultura do período helenístico, entretanto, foi a representação de grupos de pessoas, em vez de apenas uma figura. Todo o conjunto devia dar a impressão de movimento e permitir a observação por todos os ângulos. Assim é o trabalho que você vê na (fig. 12).

O soldado gálata e sua mulher, helenístico (fig. 12)

Bibliografia (texto): PROENÇA, Graça. História da arte. Ed. Ática, São Paulo, 2008.

A ARTE NO EGITO

O Egito desenvolveu uma das principais civilizações da antiguidade e nos deixou uma produção cultural riquíssima. Temos informações detalhadas sobre essa cultura graças à sua escrita bem estruturada.
O aspecto cultural mais significativo do Egito antigo era a religião, que tudo orientava. Acreditava-se em vários deuses e na vida após a morte, mais importante que a vida terrena. A felicidade e a garantia da vida depois da morte dependiam dos rituais religiosos. A arte, como não poderia deixar de ser, refletia essa visão religiosa, que aparece representada em túmulos, esculturas, vasos e outros objetos deixados junto aos mortos.
Para entender melhor as fases da arte egípcia, veja os períodos abaixo.

ANTIGO IMPÉRIO: por volta de 3 200 a 2 200 a. C.
MÉDIO IMPÉRIO: por volta de 2 000 a 1 750 a. C.
NOVO IMPÉRIO: por volta de 1 580 a 1 085 a. C.

A arquitetura
Como consequência da intensa religiosidade, a arquitetura egípcia apresenta grandiosas construções mortuárias, que abrigavam os restos mortais dos faraós, além de belos templos dedicados às divindades. São exemplo dessas construções as pirâmides de Gizé, erguidas durante o antigo império (fig. 01).

Pirâmides de Gizé: Miquerinos, Quéfren e Quéops. (fig.01)

As pirâmides são as obras arquitetônicas mais conhecidas até hoje, mas foi no Novo Império que o Egito viveu o auge de seu poder e de sua cultura. Os faraós desse período ergueram grandes construções, como os templos de Carnac e Luxor (fig. 02), dedicados ao deus Amon.
Durante o reinado de Ramsés II, no século XIII a. C., a principal preocupação do Egito era a expansão de seu poder político. Toda a arte desse período era usada como forma de demonstrar poder (figs. 03 e 04).


Templo de Luxor (fig.02)

Palácio de Nefertari (fig.03)

Palácio de Ramsés II (fig.04)

A pintura
Os pintores egípcios estabeleceram várias regras que foram seguidas durante muito tempo, ao longo do Antigo Império. Entre elas, a regra da frontalidade chama a atenção pela frequência com que aparece nas obras (fig. 05).

Regra da frontalidade (fig.05)

Regra da frontalidade (fig.5)

Aspectos técnicos como perspectiva, proporção entre as figuras e ponto de vista do autor da obra ainda não preocupavam os pintores egípcios (fig. 06). Tudo era mostrado como se estivesse de frente para o observador.

Detalhe de papiro funerário, séc. X a.C. (fig.06)

A rigidez dessas regras só seria quebrada no reinado de Amenófis IV, no Novo Império. Ele transferiu a capital de Tebas para Amarna e pôs fim à religião politeísta, impondo ao povo uma religião monoteísta, cujo único deus era Aton, o deus Sol, e adotando o nome de Akhnaton em homenagem a ele.
Akhnaton encomendou pinturas e relevos em que ele, o faraó, não era visto em posturas solenes e austeras como seus antecessores (fig. 07).

Aknaton e sua família (fig. 07)

Após a morte de Akhnaton, a tendência para a informalidade nas representações artísticas perdurou em algumas obras do início do reinado de Tutancâmon, seu filho e sucessor (fig. 08).
Quando Tebas voltou a ser a capital do Egito e o politeísmo foi restaurado, muitos artistas voltaram a representar os governantes em posturas formais.

Trono de Tutacâmon, Museu do Cairo (fig. 08)

A escultura
A escultura é a mais bela manifestação da arte egípcia no Antigo Império. Apesar das muitas regras existentes para esse tipo de arte, os escultores criaram figuras bastante expressivas. Os egípcios acreditavam que, além de preservar o corpo dos mortos com a mumificação, era importante encomendar a um artista uma escultura que reproduzisse seus traços físicos.
Essa concepção da escultura não era aplicada apenas às obras que representavam mortos. Para os egípcios, todas as esculturas deveriam revelar as características do retratado, como a fisionomia, os traços raciais e a condição social, como na (fig. 09), do escriba sentado.

Escriba sentado, 2500 a.C. (fig. 09)

Bibliografia (texto): PROENÇA, Graça. História da arte. Ed. Ática, São Paulo, 2008.

domingo, 1 de julho de 2012

A ARTE DA PRÉ-HISTÓRIA

O ser humano sempre procurou representar, por meio de imagens, a realidade em que vive – pessoas, animais, objetos e elementos da natureza, etc. – e os seres que imagina – divindades, por exemplo.
As artes visuais – desenho, pintura, grafite, escultura, etc. -, a literatura, a música, a dança e o teatro são formas de expressão que constituem a arte. Neste blog, você conhecerá a evolução das artes visuais através dos tempos e verá que a expressão artística não está isolada das demais atividades humanas: ela está profundamente integrada à cultura dos povos.

As primeiras expressões artísticas

As mais antigas figuras feitas pelo ser humano foram desenhadas em paredes de rocha, sobretudo em cavernas. Esse tipo de arte é chamado
de rupestre, do latim rupes, rocha. Já foram encontradas imagens rupestres em muitos locais, mas as mais estudadas são as das cavernas de Lascaux e Chauvet, França, de Altamira, Espanha, de Tassili, na região do Saara, África, e as do município de São Raimundo Nonato, no Piauí, Brasil.
Dentre as pinturas rupestres destacam-se as chamadas mãos em negativo e os desenhos e pinturas de animais. As mãos em negativo (fig. 01) são um dos primeiros registros deixados pelos nossos ancestrais que viveram por volta de 30 mil anos atrás, no período da Pré-história chamado paleolítico. Elas impressionam e despertam curiosidade, mas os pesquisadores já revelaram muitos detalhes sobre a técnica usada para criá-las.

Negativo (fig.01)

Positivo (fig.1)

Nos desenhos e pinturas de animais, chama nossa atenção o naturalismo: o artista pintava o animal do modo como o via, reproduzindo a natureza tal e qual seus olhos a captavam. Observando essas pinturas, nota-se a presença de animais de grande porte: alguns talvez temidos, mas que eram caçados pelo ser humano, como os bisões (fig. 02); outros que provavelmente não representavam, ameaça alguma, como renas e cavalos.

Bisão (fig.02)

(fig.2)

O ser humano retrata a si mesmo
No último período da Pré-história, o Neolítico, iniciou-se o desenvolvimento da agricultura e a domesticação de animais. Os grupos humanos, que tinham vida nômade, isto é, sem habitação fixa, não precisavam mais mudar-se constantemente em busca de alimento e puderam se fixar.
Essa mudança para uma vida mais estável foi decisiva para originar as sociedades atuais e também teve reflexos na expressão artística: o artista do Neolítico passou a retratar a figura humana em suas atividades cotidianas (fig. 03).

Serra da Capivara (fig.03)

Serra da Capivara (fig.3)

O ser humano do Neolítico desenvolveu técnicas como a tecelagem, a cerâmica e a construção de moradias. Além disso, como já produzia fogo, começou a trabalhar na fundição de metais. Assim suas atividades começaram a se modificar – e as pinturas rupestres registraram essas transformações.

A arte da escultura e da cerâmica
Os artistas pré-históricos faziam também esculturas, em pedra e metal, que mostram seu empenho na criação de objetos e na representação da figura humana. Há esculturas em bronze nas quais já é possível observar não só a postura elegante da figura humana como também detalhes do rosto e das vestes.
Uma das primeiras representações humanas em escultura é a figura de mulher que você vê na (fig. 04).

Vênus de Willendorf (fig.04)

A arte na Pré-História brasileira
Ao pensarmos no início da história do Brasil, em geral nos vem à mente o ano de 1 500, ano da chegada dos portugueses. Mas o território a que hoje chamamos Brasil já era habitado por povos indígenas havia milhares de anos. Sabemos deles por meio de vestígios arqueológicos: fragmentos de ossos e de objetos, desenhos e pinturas gravadas em rochas.
Entre os desenhos e as pinturas rupestres encontrados no Brasil, destacam-se os do sítio arqueológico localizado em São Raimundo Nonato, Piauí, aonde desde 1970 vários pesquisadores vêm trabalhando. Em 1978, foi coletada no local grande quantidade de vestígios arqueológicos. Segundo as pesquisas, os primeiros habitantes da região usavam as grutas como abrigo ocasional e foram os autores das obras ali pintadas e gravadas.
São Raimundo Nonato não é, porém, o único local no Brasil onde se encontram exemplos de arte rupestre. Há importantes sítios arqueológicos, por exemplo, em Pedra Pintada, no Pará, e em Peruaçu e Lagoa Santa, em Minas Gerais.
As pesquisas sobre antigas culturas que existiram no Brasil nos permitem ver que nossa história está ligada à história do mundo. Além disso, reforçam o conhecimento de que nossas raízes se encontram num tempo muito mais remoto do que o ano de 1 500, tido como o ano que deu início à nossa “história do Brasil”.

Templo de adoração, Sul da Inglaterra

Bibliografia (texto): PROENÇA, Graça. História da arte. Ed. Ática, São Paulo, 2008.

sábado, 16 de junho de 2012

Galeria DaVinci

Pintura contemporânea:
http://davincigallery.net/art/pt/valdeci-freitas.html

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

SÉCULO XIX NA EUROPA (1): AS INOVAÇÕES NA ARTE

SÉCULO XIX NA EUROPA (1): AS INOVAÇÕES NA ARTE


No fim do século XVIII e no início do século XIX, predominou na arte européia o Neoclassicismo, ou Academismo. Neoclassicismo, do grego neo, “novo”, significa “novo classicismo”, retomada da cultura clássica, greco-romana. Academismo vem do fato de as concepções clássicas serem a base para o ensino nas academias, as escolas de belas-artes mantidas pelos governos europeus.
O século XIX, porém, passou por fortes mudanças, decorrentes da Revolução Industrial e da Revolução Francesa, no fim do século XVIII. A arte refletiu essas mudanças, tornando-se mais complexa e dando lugar a vários movimentos artísticos. Enquanto os artistas neoclássicos submetiam-se às regras das academias, outros buscavam libertar-se delas e expressar livremente seus sentimentos e sua imaginação.
O francês Jacques-Louis David (1748-1825) é o maior representante da pintura neoclássica. Segundo o neoclassicismo, a obra de arte só seria perfeitamente bela se imitasse as formas criadas pelos artistas clássicos gregos e pelos renascentistas italianos. Exemplo: (Fig. 01 - Bonaparte atravessando os Alpes, 1800, de Jacques-Louis David. 2,60 x 2,21 m. Museu Nacional de Malmaison, Rueil-Malmaison.
As inovações na pintura: Há dois aspectos relevantes no trabalho dos artistas que reagiram ao neoclassicismo: a valorização da cor e os contrastes de claro-escuro. Quanto aos temas, eles se interessaram mais pelos fatos de sua época que pela mitologia greco-romana. A natureza também passa a ser tema da pintura.
Goya: a luta contra a tirania. O espanhol Francisco José Goya y Lucientes (1746-1828) usou temas diversos: retratos da corte espanhola e do povo, os horrores da guerra, a ação incompreensível de personagens fantásticas e cenas históricas. Dessa variedade, destacamos uma imagem que é símbolo das lutas pela liberdade (Fig. 02 - Os fuzilamentos de 3 de maio de 1808- Goya – 2,63 x 4,10 m. Museu do Prado, Madri).
Delacroix: a agitação nas ruas. Aos 29 anos, o Francês Eugène Delacroix (1799-1863) viveu uma importante experiência: visitou o Marrocos, no norte da África, com a missão de documentar, por meio da pintura, os hábitos e costumes das pessoas daí. Mas Delacroix tornou-se famoso também por retratar a agitação das ruas, como em seu quadro mais conhecido (Fig. 03 - A liberdade guiando o povo, 1830 - 2,60 x 3,25 m. Museu do Louvre, Paris).
A realidade e a arte: Entre 1850 e 1900 desenvolveu-se na arte européia, principalmente na pintura francesa, uma nova tendência, relacionada à crescente industrialização. Segundo ela, ao artista não cabe “melhorar” artisticamente a realidade, pois a beleza está na realidade tal qual ela é. A função da arte é apenas revelar o que há de mais característico e expressivo no mundo em que vivemos.
Assim, os pintores deixaram de lado temas mitológicos, bíblicos, históricos e literários – a realidade imaginada – e voltaram-se para a realidade vivida. Trata-se, portanto, de uma pintura realista. Entre seus representantes podemos apontar Courbet e Manet, que, embora da mesma época, desenvolveram trabalhos muito diferentes.
Courbet: os trabalhadores como tema. O pintor francês Gustave (1819-1877) é considerado o criador do realismo social na pintura, pois procurou retratar temas da vida cotidiana, principalmente das classes populares. Sua obra manifesta especial simpatia pelos trabalhadores e membros mais pobres da sociedade (Fig. 04 - Moças peneirando trigo – 1853-1854. Museu de Belas Artes, Nantes).
A preocupação de alguns artistas em representar questões sociais relaciona-se à época: a industrialização trouxe grande desenvolvimento tecnológico, mas também fez formar-se nas cidades uma grande massa de trabalhadores vivendo e trabalhando em condições precárias e desumanas.
Manet: o outro lado da realidade. Édouard Manet (1832-1883) pertencia a uma família rica da burguesia parisiense. Seu realismo, diferente de Courbet, não tem intenções sociais; ao contrário, chega a ser aristocrático. Sua carreira foi marcada por alguns desafios aos críticos conservadores. O maior deles aconteceu em 1863, com a tela (Fig. 05 - “Almoço na relva” 1863, 2,14 x 2,70. Museu D’Orsay, Paris). Na época, esse quadro causou grande escândalo por representar uma mulher nua em companhia de dois homens elegantemente vestidos.
A obra de Manet foi importante por inovar a pintura, dando-lhe uma luminosidade mais intensa, como podemos apreciar em outro de seus trabalhos, (Fig. 06 - O Balcão – 1,70 x 1,24 m. Museu D’Orsay, Paris). Essa luminosidade foi considerada um elemento precursor do impressionismo, que você conhecerá mais adiante.


A PAISAGEM: UM NOVO TEMA PARA A PINTURA


A pintura de paisagens já havia se desenvolvido no século XVIII, mas no século XIX ganhou nova força, principalmente na Inglaterra. Caracterizou-se, de um lado, pelo realismo, de outro, pela preocupação dos artistas em estudar e representar as contínuas variações de cores da natureza decorrentes da luz solar ao longo do dia.
Turner: a agitação na paisagem natural. O inglês Joseph Mallord William Turner (1775-1851) usou como tema fenômenos da natureza: chuvas, tempestades, ventos. A natureza representada por ele não é serena e tranqüila; nela predominam o movimento e a agitação (Fig. 07 - Vapor numa tempestade de neve (1842). 91 x 1, 22 m. Tate Gallery, Londres).
Outro aspecto que chama a atenção na pintura de Turner é a presença de máquina. Os pintores anteriores representaram elementos da natureza, seres humanos, animais ou mesmo embarcações. Em uma das telas de Turner, porém, vemos uma locomotiva, meio de transporte que começava a fazer parte do cotidiano das pessoas (Fig. 08 – Chuva, vapor e velocidade (1844). 90 x 1,21 m. Galeria Nacional, Londres).
Constable: o cotidiano na paisagem. Ao contrário de Turner, o também inglês John Contable (1776-1837) retrata uma natureza serena e profundamente ligada aos lugares onde ele nasceu, cresceu e trabalhou ao lado do pai. Muitos elementos de suas paisagens – moinhos de vento, barcaças carregadas de cereais – fazem parte de suas lembranças de juventude (Fig. 09 - A carroça de feno (1821), 1,30 x 1,85 m. Galeria Nacional, Londres.
As inovações na escultura: Rodin. Entre os escultores que inovaram a escultura do século XIX destaca-se o francês Auguste Rodin (1840-1917). Sua produção despertou muita polêmica: alguns estudiosos apontam em seu trabalho a acentuada tendência ao realismo; outros consideram mais a emoção revelada por muitas de suas obras. Outros, ainda, vêem em sua escultura características do impressionismo, movimento do qual foi contemporâneo. A mais famosa de suas obras (Fig. 10 - O pensador (1889), 1,83 m. Museu Rodin, Paris).

Bibliografia (texto): PROENÇA, Graça. História da arte. Ed. Ática, São Paulo, 2008.

SÉCULO XIX NO BRASIL (1): A INFLUÊNCIA ESTRANGEIRA

SÉCULO XIX NO BRASIL (1): A INFLUÊNCIA ESTRANGEIRA

O início do século XIX no Brasil é marcado pela vinda da família real portuguesa, que pretendia ficar de fora do conflito entre a Inglaterra e a França, governada por Napoleão. Dom João VI e uma comitiva de milhares de pessoas desembarcaram na Bahia em 1808 e no mesmo ano transferiram-se para o Rio de Janeiro.
Chega a Missão Artística Francesa. Chefiada por Joachim Lebreton, a Missão Artística Francesa chegou ao Rio de Janeiro em 1816, oito anos depois da família real. Dela faziam parte, entre outros artistas, Nicolas-Antoine Taunay, Jean-Baptiste Debret e Auguste-Henri-Victor Grandjean de Montigny. Em agosto de 1816, o grupo organizou a Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios, transformada, em 1826, na Academia Imperial de Belas-Artes.
Taunay: a paisagem brasileira do século XIX. Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830) é um dos nomes mais importantes da Missão Francesa. Na Europa, participou de várias exposições e foi muito requisitado para pintar cenas de batalhas napoleônicas. Nos cinco anos que aqui ficou, pintou cerca de trinta paisagens do Rio de Janeiro e regiões próximas (Fig. 11 – Morro de Santo Antonio (1816). Museu Nacional de Belas-Artes, RJ).
Debret: os costumes brasileiros do século XIX. Com trabalhos muito reproduzidos nos livros escolares, Jean-Baptiste Debret (1768-1848) é o artista da Missão Francesa, mais conhecido pelos brasileiros. Na Europa já era um artista premiado e pintava quadros com temas relacionados a Napoleão.
Debret ficou no Brasil até 1831 e produziu uma obra imensa: retratos da família real, cenários para o teatro São João e trabalhos decorativos para festas públicas e oficiais, como as solenidades que envolviam Dom João VI. Foi professor de Pintura Histórica na Academia Imperial de Belas-Artes e realizou a primeira exposição de arte no Brasil, em 1829.
O artista produziu inúmeros desenhos e aquarelas*, mais tarde reproduzidos em seu livro Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, publicado em Paris entre 1834 e 1839. Neles é possível conhecer paisagens e costumes da época (Fig. 12 e 13 – de Debret).
Arquitetura: A Missão Francesa adotou o estilo neoclássico e abandonou o Barroco, que, em nosso país, Principalmente em Minas Gerais, havia se desenvolvido com características e soluções brasileiras. O Principal responsável por essa mudança foi o arquiteto Grandjean de Montigny (1772-1850), autor do projeto da Academia Imperial de Belas-Artes (Fig. 14 – Pórtico de entrada da academia imperial de belas-artes).
Outra construção de destaque na arquitetura da época é o Solar dos Marqueses de Itamaraty (Fig. 15 – Arquiteto José Maria Jacinto Rebelo, aluno de Montgny).
Os primeiros estudantes da Academia. Entre os primeiros alunos, o gaucho Manuel de Araújo Porto Alegre (1806-1879). Aí desenvolveu seu talento no desenho, na pintura, na caricatura. Mais tarde, foi professor de desenho e pintura, crítico de arte, poeta, escritor e teatrólogo. Quase trinta anos depois, tornou-se diretor da Academia. Grande incentivador das atividades da academia. Mas os dois estudantes da instituição que mais se destacaram foram August Muler e Agostinho José da Mota.
O alemão August Muler (1815-1883) veio para o Rio de Janeiro ainda criança. Sua obra abrange pinturas históricas, retratos (Fig. 16 – Retrato em azul – Baronesa de Vassouras, 150 x 94 cm. Museu Imperial RJ) e paisagens. Agostinho José da Mota (1824-1878) começou a freqüentar a academia em 1837 e tornou-se famoso como pintor de paisagens. Foi o primeiro artista brasileiro a ser premiado com uma viagem à Europa, em 1850. Pintou também naturezas-mortas, tema em que igualmente se destacou.
Artistas europeus independentes da Missão Artística Francesa. Além dos artistas da Missão, vieram ao Brasil outros pintores europeus atraídos pela luminosidade dos trópicos e pela burguesia rica que queria ser retratada em pinturas. Entre eles, destaca-se Thomas Ender e Johann Moritz Rugendas.
O austríaco Thomas Ender (1793-1875) chegou ao Brasil em 1817, com a comitiva da Princesa Leopoldina. Tinha 23 anos e ficou aqui por onze meses. Retratou paisagens e cenas do cotidiano de São Paulo e Rio de Janeiro em um conjunto de oitocentos desenhos e aquarelas. Esses trabalhos ficaram expostos no Museu Brasileiro de Viena. Já o alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1868) esteve no Brasil entre 1821 e 1825. Participou, como desenhista e documentarista, da expedição científica que o Barão Langsdorff, cônsul-geral da Russia no Rio de Janeiro, organizou pelo interior do Brasil. Tinha então 19 anos. Desse período, deixou um livro, Viagem pitoresca através do Brasil, contendo cem desenhos. E foi com seus desenhos e aquarelas que ele melhor expressou sua percepção do nosso país, deixando-nos importantes registros da flora, da fauna (Fig. 17 e 18) e dos costumes brasileiros do século XIX.


Bibliografia (texto): PROENÇA, Graça. História da arte. Ed. Ática, São Paulo, 2008.